terça-feira, 29 de março de 2011


Ensaio sobre a Coleira I

Em que momento os animais de estimação, e aqui vou escrever especialmente sobre os cães, começaram a adquirir este status atual?
Tem relação direta com o afastamento “corporal” das pessoas dentro de uma família?  Sim, eu explico, Tem relação com o momento de cada um ter sua televisão no quarto? Ou seja, a afetividade inerente ao ser humano não encontra manifestação?
Tem relação com o crescimento de apartamentos, ou seja casas sem pátio?
Quando eu era criança sempre tive animais de estimação e isto fazem somente uns 40 anos. Eles viam no pátio,  tinham uma vida mais animal, mais livre.  Haviam veterinários mas não PetsShops.
Tem tantas coisas sobre este assunto passando pela minha cabeça, que neste momento fica dificil de organizar. Então irei escrevendo conforme as idéias surgem e depois colocarei uma ordem, o que não quero é perder as reflexões.
Então tenho estas questões: A afetividade faz parte do ser humano e a não manifestação acaba por modificar tanto o fluxo normal das coisas criando seqüelas. Do que estou falando? Da solidão inconsciente que acontece quando as pessoas se afastam, em decorrência do trabalho, da televisão, dos computadores, meus dedos neste momento estão tocando as teclas, as palavras se formam, estou querendo que muitas pessoas leiam este ensaio, mas não tenho o toque na pele, o afago, o abraço, o olhar, uma conversa boba qualquer, um sorriso, contar meu dia, perguntar o dia do outro.. estas coisas simples que nos tornam tão humanos.
Bom então tenho que manter o foco:  A afetividade está em nós tem que ser manifestada. SE não for se torna carência. Nesta crescente crença de que somos o que temos e a necessidade de ter conforto, boa escola, desempenho e vivemos numa constante competividade, nos afastamos do “SER”.
Os animais de estimação se tornam expresse. E então eles começam a fazer parte de nosso mundinho. Enquanto vemos televisão, o cãozinho está ali ao lado e se andamos pela casa, ele nos segue como uma sombra. Estou sendo amado incondicionalmente e também adoro  este animal que me segue. Converso com ele, manifesto todo meu carinho e tenho a certeza de que ele entende.
Mas como ele agora faz parte do “meu” ambiente, não pode cheirar a animal, tem que se manter “limpo”, e não basta estar limpo tem que estar perfumado, pois o seu cheiro “NATURAL” NÃO COMBINA  com a decoração da casa.
Eu manifesto meu carinho por este animal, a ternura, falo mansinho. Meu coração se sente realmente cheio de afeto e me sinto querida também. E tenho a sensação de suprir as minhas carências. Então é isto, não estou mais sozinha. E tem um detalhe importante, que quando não me interessa  brincar ou acarinhar eu simplesmente digo: agora você fica quieto ai... Até a próxima postagem

sexta-feira, 11 de março de 2011

Quanto mais fundo o lodo, mais o lótus floresce

Nós que vivemos nos centros urbanos, sabemos bem o que é estar diariamente expostos aos piores fatores de desgaste físico e emocional. Como aquelas plantinhas que surgem nas frestas do asfalto, enfrentamos o desenrolar de cada dia tentando manter a integridade em um cenário inóspito e agressivo. Assim como a sujeira nos faz criar anticorpos, as dificuldades nos fazem criar mecanismos de defesa que nos fortalecem por dentro e por fora. É um exercício de perseverança. Sem grande força interior e clareza, não conseguimos seguir adiante com saúde, somos sufocados por pragas, degradação humana, poluição ambiental, violência, que se multiplicam assustadoramente. Abrimos caminho com esforço, o tempo passa depressa e, se não conseguirmos realizar nosso próprios projetos, nossa energia certamente será sugada por projetos alheios; se não criarmos nosso código de valores como indivíduos, obedeceremos aos valores da cultura em que nascemos e cujos padrões aprendemos a reproduzir sem perceber e portanto, sem questionar. Com isso, corremos o risco de um dia acordar e descobrir que não sabemos mais quem somos, uma vez que passamos a vestir um manto coberto pelos referenciais alheios; camada por camada.
Gandhi nos descreve esta dinâmica, quando diz:
Suas crenças se tornam pensamentos,
Seus pensamentos se tornam suas palavras;
Suas palavras se tornam suas a;ções;
Suas ações se tornam seus hábitos;
Seus hábitos se tornam valores
Seus valores se tornam seum destino.
(texto do Livro  O  Prazer de Ficar em Casa, de Leticia Ferreira Braga)

A Flor de Lótus nasce no barro, emerge das águas e vislumbra toda sua magnitude sem sujar suas pétalas.